Uma grande banda! Uma longa jornada! O MALEFACTOR, banda veterana da cidade do Salvador/BA, já tem uma longa história pra contar... Com um Demo lançado, quatro álbuns e um DVD, o grupo vem lutando pra voltar ao topo da cena. Ame ou odeie, eles lutam como bravos guerreiros e estão prestes a lançar o quinto capítulo dessa saga, Anvil Of Crom. Conversei com o grande Lord Vlad (vocal), o qual me cedeu gentilmente essa entrevista.
01.
Saudações LordVlad e Malefactor! O
último trabalho lançado pela banda foi o álbum Centurian em 2006. Pelo que você
me disse o novo álbum será lançado ainda esse ano... Qual o título do mesmo,
número de músicas, gravadora...? O álbum
foi todo gravado e masterizado em Salvador?
Lord Vlad: Hail Evil Brother !Obrigado
pelo espaço. Cara... este disco tornou-se um parto por vários motivos. Muitos
pensam até que viramos como o Metallica e alugamos um estúdio pra compor o
disco lá dentro. Tivemos alguns contratempos sérios. O estúdio era em outra
cidade (Lauro de Freitas) , só podíamos comparecer aos finais de semana. Não
serei injusto com meus irmãos do estúdio. Somos MUITO chatos gravando..mais do
que nunca. Uhauhauhau. E as músicas ficaram enormes. O disco tem mais de 70
minutos... são praticamente dois discos em um só. Aí o estúdio fechou por
alguns meses e eles se mudaram pro lado da minha casa. Tivemos também participações
mais do que especiais no disco e esperamos o material chegar. Depois de tudo
pronto... Jafet foi pra Europa e levou um rough-mix do álbum, e preferimos
esperar antes de assinar logo de cara com um selo brasileiro. FINALMENTE está
tudo certo e a Eternal Hatred Records estará lançando o “AnvilofCrom”. Primeiro
pelo ITunes, onde os metalheads poderão comprar o disco todo ou faixas
separadas, e sairá em formato físico em janeiro/fevereiro. A gravadora tinha
lançamentos na fila também. Enfim... demorou MUITO, e não demorará assim
novamente para o próximo. Nem quero mais pensar nos problemas nestes 6 anos.
Chegamos a ponto de parar de ensaiar muito tempo e agora estamos voltando com
força total. Sábado ia 27.10 aconteceu o primeiro show (Guanambi-BA) de
muitos que virão para divulgar o novo
material.Foi um show maravilhoso, energia metalizada total entre o Malefactor e
o público. E estamos brutalmente orgulhosos do novo play. Demorou, mas ficou
666% do jeito que queríamos.
02.
Nos fale um pouco sobre o contexto
lírico do novo álbum.
LordVlad: Apesar do disco chamar-se
“AnvilofCrom”, uma homenagem (mais uma, sempre tem) ao Robert E. Howard,
criador do Conan, o Bárbaro e sua temática forte e de guerra, o disco tem ainda
uma música inspirada na Deusa Sekhmet (para a qual temos um vídeo-clip –
esquema makingof do disco). No mais, a bandeira maligna tremulou como nunca e o
disco está com cheiro de enxofre. Títulos como “666 StepstoGolgotha”, “Trevas”,
“Into The Catacombs (Goatof Mendes)” são uma pista de como o disco foi forjado nas
lavas deAcheron. Continuamos técnicos, melódicos, mas resolvemos buscar
inspiração em tudo o que fizemos antes. Das demo(n)-tapes até hoje. Eu diria
que voltamos a ser mais rápidos e sujos também e todos estão tocando muito
melhor. Foram 6 anos sem lançar nada. Não podíamos lançar um disco mais ou
menos. Não tenho nenhuma modéstia em relação ao disco novo. Na verdade acho a
modéstia algo falso. Se nem você confiar na sua arte, como alguém irá confiar?
03.
Porque tantos anos sem lançar nada, a
banda chegou a ficar durante esse tempo inativa?
LordVlad: Nossa gravadora antiga
faliu, estávamos chegando da Europa e todos sentíamos que era a nossa hora de
crescer no cenário, e foium verdadeiro container de água fria. Ficamos sem
suporte na tour do “Centurian”(2006), não tivemos a promoção que tínhamos em
mente, sendo inclusive, inferior ao disco “Barbarian”(2003) e tudo isso acabou
sendo bastante desanimador para todos. Só temos a agradecer à Maniac Records.
Não foi culpa deles. O mercado ficou uma merda para quase todos. Em 2008/2009
tivemos um grande suporte da MutilationProductions (HailTulula) de São Paulo,
que relançou nossos últimos álbuns em edição dupla e isso nos manteve vivos por
mais um tempo. Resolvemos sumir mesmo, alguns caras da banda tornaram-se pais e
precisavam de tempo pra se organizar, afinal estamos nessa desde moleques
(1991). Bem... Eu encaro como um novo começo. Muita gente nos conhece no Brasil
e temos nos esforçado para voltar ao exterior com este disco, mas a cena mudou,
veio aquela “moda” retrô e tudo isso foi esquisito pra nós. Então eu sei que
dos freqüentadores dos shows de hoje, mesmo nas cidades que estivemos mesmo que
mais de uma vez, 70, 80% do público nunca nos viram ao vivo. Então, é hora de
cairmos na estrada, revermos irmãos de underground, esquecermos os problemas e
seguir em frente. Não vivemos da banda, nem mesmo queremos mais isso, então
tudo fica melhor. Não existem cobranças o tempo todo entre nós. Sobe no palco,
faz o melhor show possível e depois da catarse voltamos ao fudido mundo
capitalista. Nunca estivemos inativos. Estávamos hibernando.
04.
Vocês lançaram o vídeo clipe da
música BloodOfSekhmetque fará parte
do novo álbum, como tem sido a receptividade do público?
LordVlad: Nós o lançamos muito antes
do disco sair, porque estava rolando todo aquele burburinho do Brasil passar a
sediar Wacken, depois o MOA Shit, e não tínhamos um disco em mãos. Vimos uma
chance de voltarmos aos grandes festivais. Mesmo assim, sendo um clip dentro do
estúdio, ficou muito foda. Agradecemos aos grandes Gustavo Korontai e Rafael
pelo trampo. Já temos outro clip filmado para a música “AnvilofCrom” que sairá na
época do lançamento do cd. A edição crua do próximo clip, com pequenas partes,
já nos deixou de queixo caído. Não deve NADA ao que se faz lá fora em termos de
produção. E não estou contando vantagem. É porque ficou foda MESMO! Já estamos
conversando para o terceiro. Disco hoje não vende. Então clip e tour são 90% ou
mais da divulgação. Iremos realizar o máximo dos dois com este disco, sempre
mantendo o espírito maligno e técnico do Malefactor.
05.No vídeo clipe nota-se que a banda
continua com a mão boa para fazer boas composições... Você diria que a banda
evoluiu tecnicamente ou manteve o bom nível?
LordVlad: Desde que começamos a
produção de um material mais épico, à partir de 1994, tenho plena convicção que
nos tornamos uma banda bastante atípica. Pelo menos em termos de Brasil. Muita
gente não entendia o que estávamos fazendo. Era épico, pagão, profano, mas muito
cadenciado, centenas de mudanças de andamento. E pra ser sincero... A gente
tinha a idéia e a vontade, mas não tínhamos ainda nem a produção e nem a
capacidade técnica de fazer. Não sei se evoluímos. Digo que estamos sendo mais
profissionais, tanto em estúdio, como ao vivo. Fomos bastante minuciosos,
ouvindo produções do Brasil e de outros países e posso dizer, sem medo de
errar, temos um disco diferente novamente. Mas os bangers conseguem identificar
“porra..isso é Malefactor”. Claro que sempre vai ter influência, mas criar uma
“assinatura” é o mais difícil no mundo da arte, penso eu. Copiar o Sarcófago, o
Sodom, o Bathory, é algo possível. Jamais será tão bom quanto, apesar de que eu
não acho que só as coisas originais prestam. Hoje já existem até bandas
tributo, que fazem questão de soarem quase iguais à bandas antigas. Até mesmo
na estética. Não é a nossa meta. Obrigado ao Korontai e Rafael Sodré pelo clip
de “BloodofSekhmet”. http://www.youtube.com/watch?v=Fz_ESl-6Peo
06. Quando pretendem voltar a tocar na
capital baiana? Deve rolar uma turnê para divulgar o novo álbum?
LordVlad:A tourjá começou antes mesmo
do disco. E começamos pela Bahia. Fomos para Guanambi no final de outubro
(HAIL!!!)e agora virão Feira de Santana e Alagoinhas. E aí, não sei quando, nem
onde, iremos parar. Salvador eu só quero tocar se for algo especial. Nada de
local ruim, nem som mais ou menos. Fizemos uns shows em Teatro anos atrás e eu
achei muito bom. Som maravilhoso, luz foda. Prefiro tocar até para um público
menor, mas que possamos fazer um show inesquecível. Termos todo tipo de
cuidado, até porque a meta é filmar para um possível DVD. Salvador ainda deve
demorar um pouco, porque queremos algo realmente especial. Queríamos comemorar
os 20 anos de banda em dezembro em Salvador, mas não deu. Talvez a gente faça
uma festa, alguma audição do disco, mas nada de show mambembe só pra dizer que
comemoramos.
07.Lembro-me de ter pego muitos shows
memoráveis da Malefactor dividindo palco com a Tharsis(outra grande banda de
Salvador que infelizmente acabou) no saudoso Idearium Bar. Você diria que
aquela foi uma das melhores épocas do cenário local? O que mudou daquela época
do cenário de Salvador para o atual? O cenário perdeu muito com o fechamento do
Idearium Bar para shows de Metal, assim como o fim do Rock In Rio, e ainda com
o fim da Maniac Records? Realmente sinto saudades...
LordVlad: O metal na Bahia hoje está
caindo das pernas. As bandas antigas, a maioria morreu, os espaços fecharam,
não havia gravadora (HAIL ETERNAL HATRED RECORDS/MS METAL PRESS) até um dia
destes e a violência ainda é muito grande dentro da cena. A eterna bobagem
classista, negros contra “brancos”, favelados contra “playboys”. E toda esta
bosta idiota que a falta de educação causa. Você vai a shows underground pelo
país e no exterior, claro que rola briga, mas são atos isolados. Aqui é uma
cultura louca. Pode soar preconceituoso, mas acho que para se ouvir metal, que
quase sempre é cantado em inglês, seria necessário um mínimo de entendimento do
idioma. E ler não faz mal a povo nenhum. O cara acabou de fazer 15 anos de
idade, ouvia pagode 2 anos atrás, e compra um disco do Nargaroth, ouve dizer
que a banda prega assassinatos, e chega no show parecendo que está indo
combater inimigos. Como dizemos aqui na Bahia, pensa que é “cavalo do cão”. Não
percebe que é a velha história “Metal desunido, vai se destruir” – Dorsal
Atlântica. Você dar um soco, uma garrafada em alguém porque ele pensa diferente
de você, é imbecilidade. Eu sou seguidor da cultura anticristã, mas não vou
espancar o cara porque ele prefereouvir Dokken. Ele que escolha o melhor pra
ele. De que adianta arrotar ser satanista e ter este típico comportamento
cristão de intolerância, preconceito? Nem todos tem que estar produzindo na
cena como eu, não posso cobrar isso de ninguém. Só quero que vá ao nosso show o
cara que é apreciador do Malefactor. Mas
não vou hostilizar alguém porque não é. Há menos que ele não saiba debater e
agir com civilidade. E olha, em mais de duas décadas de metal, o que mais vi
foi “filho de Satã” virando crente, pagodeiro e renegando seu passado. Foi
tanto imbecil nos criticando porque o Malefactor, na época um bocado de moleque
bêbado com 15 anos, fazia death metal, e 3 anos depois incorporou novos
elementos ao som. Aí um prego destes, que um ano atrás não sabia nem brincar
com seu pinto, chega com cara de fome no show e camisa de banda nazista, e
cuspindo arrogância. Aí vem cara das antigas, e apóia isso na cena. Salvador é
uma cidade abandonada em vários aspectos, e nós, morremos de saudade destes
locais que você mencionou. E o povo já reclamava. Viram show do Destruction com
Kreator por R$30,00 e reclamaram. Bato palmas pra Recife que virou um pólo da
cultura alternativa e underground e fico muito triste, porque foi na Bahia que
o Rock andRoll nasceu, com Raul Seixas, e hoje só somos lembrados pelas bostas
com suas pseudo-músicas. Como dizia Marcelo Nova “Salvador – a cidade do Axé e
do terror”. HAIL TRUE BAHIA METAL MILITIA!
08.
A banda já possuiu dois tecladistas
em sua formação... Ainda pensam na banda voltando a tocar com dois tecladistas?
A sonoridade do grupo não perde muito com apenas um tecladista?
LordVlad: Nem eu entendo porque era
assim. Huauhauhauauh. Juro que não vejo mudança na sonoridade, com menos
teclados ou mais simplicidade, porque, por incrível que pareça, a guitarra
sempre foi mais na frente. Nunca tivemos como meta que o teclado fosse nosso
guia. Na verdade, depois que Chris Macchi entrou na banda, o teclado está até
muito mais presente. Porque ele é um músico louco. Além de tocar muito, e ter
vindo da velha guarda(ele já tocava metal em 1988 na Arsenal Heavy em Salvador)
hoje temos solos de teclado à lá John “GOD” Lord e aqueles ataques foda do Hammond.
Mas no geral, acho que o Chris sozinho dá conta e sobra. Talvez tenha sido um
ataque de megalomania, não sei. Mas não vemos mais necessidade disso.
09. É difícil dizer que a Malefactor faz
esse ou aquele estilo de Metal, concorda? Já vi a banda sendo rotulada como
MelodicDeath Metal, você acha que esse o rótulo mais aceitável a banda? Prefiro
dizer que a Malefactor é uma banda de Epic Metal ou Metal Sinfônico...
LordVlad: Nunca usamos este rótulo de
Melodic, acho uma bobagem isso aí. Se você fosse à minha casa e visse minha coleção
de discos, talvez achasse uma 4, 5 bandas do chamado “GothemburgSound”. Claro
que eu adoro vários trabalhos do DarkTranquility, do Dismember (bastante
melódico em alguns trabalhos – embora eu goste deles de qualquer forma), ArchEnemy
com vocal masculino, In Flames do início (pois émoçada... o In Flames era
metal, huahuauhahua). Só que reparem...NENHUMA destas bandas tem o teclado como
guia. Se não me engano o DarkTranquility nem tinha tecladista. Nós tínhamos
dois. Nós falamos sobre Satanás, Sangue, Guerra, Profanações, Luxúria e não há
concessões para músicas eletrônicas, nem pop. Nossa melodia vem do fantástico e
fudido, heavy metal tradicional. Como você vê... não consigo fazer um link
entre nossa proposta e a deles. A mente
de uma parte dos metalheads nacionais parece que não consegue ir além do
Sarcófago e do Krisiun, OU da nova “moda” que é o OldSwedishDeath Metal. Os
oitentistas...já estão sumindo como areia. Nos rotulamos como Unholy Metal.
Porque não vejo como nos colocar em nenhum dos muros dos estilos hoje mais
conhecidos. E nem queremos. Somos 666% metalizados, e isso nos basta. Entendo
quando você fala da parte sinfônica, mas o Celtic Frost já fazia isso na década
de 80, e chamavam de Death metal OU de Black metal.
10. A Escarnium(banda de Death Metal de
Salvador) esteve na Europa realizando uma turnê e pelo que fiquei sabendo eles
sofreram várias ameaças por partes de grupos neo-nazistas.... A Malefactor
também sofreu algo do tipo quando esteve por lá?
LordVlad: Não sofremos nada grave
não. Tocamos numa cidade chamada Halle na Alemanha e o show foi em um squat,
ocupado por um grupo chamado “MetalheadsAgainstNazism”. Ai tinha uns White
Power de bosta, procurando onda pelo bairro. Mas nem no show foram e não foi conosco
a treta. Já em Braunschweig (Alemanha) apareceu um grupo grande de NS Black
Metallers e achamos que o bicho ia pegar. Fizemos o show e eles foram no
camarim atrás de nós. A gente começou a pensar que ia ser uma pancadaria
infernal. Aí chegam os caras, cheios de birita e haxixe “heybrazilians...” e
ficaram lá trocando idéia, explicando que eram da extrema direita, mas não se
preocupavam com bandas, e sim com imigrantes ilegais. Enfim, uma postura
esquisita, mas eu não ia caçar onda na terra dos outros, até porque chegaram
numa boa e alguns só queriam trocar idéia de som. Talvez um dia role alguma
treta, mas aí vão entender que não se ganha uma briga no gogó. A gente já se
deparou com cada mal-assombrado tirado a sei lá o que, não vamos baixar a
cabeça pra merda de nazista algum. Seja no Brasil ou no exterior. A política
não pode estar acima da magia negra metálica. Jamais!
11.
Vocês chegaram a dividir palco com
uma banda de white metal, estou certo? Isso não seria algo contraditório para
uma banda obscura como a Malefactor? Hoje em dia vocês se arrependem disso?
Tocariam novamente com uma banda cristã sem problemas? Até que ponto o
radicalismo é benéfico e maléfico no cenário underground?
LordVlad: Pois é... É a “eterna” pedra
no nosso sapato. Uhauhauhauauh (desculpe o infame trocadilho). Quando topamos
tocar num festival (nunca num show) com esta merda, sabíamos que muitos iriam
nos criticar, porém, 90% deles já não nos apoiavam mesmo. Já fomos chamados de
traidores de tanta coisa, foi apenas mais uma. E nem posso tirar a razão
totalmente de quem ficou puto. Mas eu tenho sempre que analisar que bate aquele
estigma de vira-lata SEMPRE no brasileiro. Tem um bocado de banda aí que já dividiu
palco com banda cristã (inclusive em Salvador, no Palco do Rock – com a banda
Empty Cross) e tantas outras, mas eu vi que o que incomodou MESMO era que o
show era em SP, num local foda, divulgação foda e que muitos nos detonaram, e
logo no ano seguinte estavam mendigando participar do mesmo festival, pedindo
voto em orkut, nem aí pra quem ia tocar. Bandas como Trouble, St.Vitus,
Helloween, que pregam sobre o cristianismo em suas letras, já dividiram o palco
com centenas de bandas respeitadas e fudidas lá fora, e os brasileiros compram
camisas, vão aos shows e tudo mais destas bandas. Gringo pode,o Malefactor,
não. A tal bandeca papa hóstia, inclusive, entrou no palco com incenso pra
tirar a “energia ruim” do Malefactor. Hahuauhhuahuauhauh. No mesmo festival
teve mais 13 bandas, NENHUMA cristã e foi com algumas destas que eu me
senti dividindo o palco. A pergunta certa é: “porque uma banda White merda está
no mesmo palco de uma banda satânica como o Malefactor”? O underground é nosso,
não deles. Cadê eles? Eu estou aqui. Cantando as mesmas coisas, dizendo as
mesmas coisas. Já esqueceram do Tom Araya dizendo que é cristão? Que o Megadeth
(Megalife) expulsou o RottingChrist de um festival? Ahhhhh...eles podem, porque
são ícones. Eu jamais deixaria de ouvir RottingChrist porque tocou com
Megadeth. Eu sou um baiano com raiva, somente. Se eu tocaria de novo? Não. Já
toquei no festival, isso me levou a conseguir tocar numa estrutura ótima, na
frente de muitos metalheads que trocavam cartas comigo desde a década de 90 e
nunca nos viram ao vivo. Eu já tinha tocado em Sp antes, e vi que a população
de lá só comparece em shows gringos OU covers. Este Festival era um diferencial
enorme. Eu moro aqui na terra esquecida. É muito fácil dizer “eu não tocaria”
quando ninguém lhe convidou, e quando você não teve milhares de votos do país
todo pedindo pra que você tocasse. Eu fui em respeito aos que queriam nos ver
lá. Não tenho que pensar “porra. vou chatear os caras que já não nos admiram”. Foda-se
ETERNA! Foda-se Stryper! Mas isso não vai fazer eu mudar de idéia sobre o
porque deu ter estado ali. Eu estava ali pelo metal, como está registrado em
vídeo na minha fala durante o show: “A única religião que deve comandar a todos
nós é a do heavy metal”. METAL CHURCH!
12.Você diria que o cenário underground
nacional está em baixa? Antigamente tínhamos gravadoras como Somber, Maniac,
Demise que faziam grandes lançamentos de álbuns de bandas nacionais, assim como
talvez um número maior de bandas, zines impressos e web...
LordVlad: O cenário mundial está em
baixa. Até mesmo pro povo do pop a coisa está complicada. Não dá pra acompanhar
mais os lançamentos também. Qualquer banda couro de rato lança álbuns e só
gente com muita grana OU respaldo antigo consegue chamar alguma atenção
atualmente. A Maniac foi a mola propulsora do metal da Bahia. Um bocado de
filho da puta não apoiou a loja/selo quando ela mais precisava. Hoje as bandas
de metal tocam em galinheiros, não tem mais local apropriado pra expor seu
material e vejo as pessoas falando “porra...era massa naquele tempo”. E porque
não apoiou naquele tempo, merda? A Demi$e só fez sacanagem com as bandas.
Tentou ao máximo sugar grana e talento das bandas. Todo mundo teve que ir na
justiça pra se livrar do contrato com eles, teve banda que acabou. A Maniac
teve que literalmente comprar uma liberação do Malefactor, e 11 anos depois, o
“The DarkestThrone” ainda não foi relançado, porque os selos ficam com medo do
dono da Demi$e tentar arrancar mais grana de quem batalha. Não sou mal agradecido
não, mas também não sou idiota. A Demi$e não me faz falta alguma. HAIL MANIAC
Records, Mutilation Records, Eternal Hatred Records pela confiança,amizade e
sentimento realmente underground.
13.E o velho Mirc e o #metal-ba... Você
não sente saudades daquela época? Infelizmente o mirc caiu em desuso, depois
veio à moda do MSN, Orkut e por agora Facebook. Particularmente gostava muito
do mirc pois era um ótimo meio de conhecer e fazer contatos com pessoas do
underground do mundo todo, fazer amizades em geral e trocar mp3’s.
LordVlad: Você está muito saudosista.
Mirc era tosco, uhauhahuahua. Mas eu usava muito. Eu gostava porque usávamos
chats privados, mas havia bastante debate e conversas em aberto, com muita
gente participando. Bastava você divulgar um show no #metal-ba que lotava.
Tinha gente que nem era metalhead que ia, porque ficava amigo do povo do #irc.
Mas cada época fica uma marca de comportamento. Foi muito bom, mas hoje, as
coisas são bem mais fáceis. Que nada..sentir saudade de conexão discada, 30
minutos pra baixar uma música?
14. Provavelmente todos os álbuns do
Malefactor estão esgotados... Existe alguma possibilidade de relançamento
deles? Existe alguma proposta de relançamento de algum deles em LP?
LordVlad: Nós relançamos o
“Barbarian” e o “Centurian” juntos, numa edição especial, pela Mutilation de
SP, e ainda rola algumas cópias. Os outros, só acha usado. Queremos relançar as
demos, junto com os álbuns “CelebrateThy War” (1999) e “The DarkestThrone”
(2001), mas precisamos analisar na justiça como fazer. Até eu mesmo lançaria,
porque muita gente ainda procura, mas pode ser um tiro no pé e virar um grande
processo judicial. Quem sabe a gente não dá a doida e regrava os dois discos?
Do “Celebrate...” já regravamos duas no “Centurian”. Seria uma saída.
15.Você possui uma grande qualidade e
variação vocal: gutural, rasgado, assim como os majestosos limpos e tem mantido
pelo menos ao meu modo de ver o mesmo nível durante todos esses anos, diferente
de vocalistas como Philip Anselmo, por exemplo, que ao meu gosto tinha uma das
mais afinadas vozes do Metal e com o passar dos anos foi perdendo a qualidade,
provavelmente pelo seu forte envolvimento com drogas, podendo-se dizer que
comprometeu aquela performance vocal grandiosa do Cowboys FromHell talvez até
em uns 50% pelo que se ouve dele hoje em dia. Você possui algum tipo de cuidado
especial com a sua voz? Como manter o mesmo timbre durante tantos anos?
LordVlad: Muito obrigado. Eu acho que
estou cantando bem melhor, mas não sei até quando consigo. Nunca fizemos uma
tourrealmente longa, de 2, 3 meses tocando direto. Eu precisaria REALMENTE
pensar em como cuidar da voz. O Phil Anselmo cantava MUITO no início da década
de 90. Mas fez tour atrás de tour e como podemos ver nos vídeos do Pantera, se
entupindo noite após noite de maconha, heroína e álcool. Durante anos e anos. Não acho que ele consiga
cantar as partes agudas, nem mesmo dar aqueles berros copiados hoje por 99%
destas bandas de metalcore. E talvez ele nem queira. Eu só sei que dei uma
sorte de ter nascido com esta facilidade de mudar os tipos de vocal e penso que
descobri as melhores formas de fazer isso. Mas, não me cuido tanto quando
fazemos shows. Como são poucos atualmente, não parei ainda pra ver como fazer.
Não fico até de manhã enchendo a cara como alguns caras da banda, mas ainda
assim, me divirto muito com meus irmãos na estrada e teria que tomar maiores
cuidados em uma tour mais extensa.
16.Em uma entrevista ao site Stay Heavy
Rob Halford se mostrou interessado em tocar ao lado do Malefactor... Já rolou
algum contato entre ele e vocês?
LordVlad:Lembro disso e fiquei
bastante honrado. As pessoas falam do Halford pela opção sexual dele, e
esquecem que é um dos criadores do metal tradicional. O Judas Priest é a grande
representação do metal feito pra bater cabeça, com riffs inacreditáveis e ele,
certamente, está entre os 5 melhores vocais de todos os tempos. Ele disse, na
verdade, que queria conhecer nosso som, e que iria procurar na net e tentar
tocar no Nordeste. Mas, só pelo fato dele ter tido a humildade de querer
conhecer o Malefactor, que é uma banda de fanáticos pelo Judas Priest, já é uma
honra inacreditável para nós. Espero que ele tenha ouvido nossa versão para “A
TouchofEvil”, que foi bônus-track do “Barbarian”.HAIL TO THE
METAL GOD!WE’RE ALWAYS SCREAMING FOR VENGEANCE!
17.Quais os problemas da cena local de
Salvador? Temos grandes bandas, mas uma falta de união e até de respeito entre
bandas e bangers, muitas rixas, faltas de locais decentes pra shows...
LordVlad: Cara, felizmente algumas
bandas colaboram umas com as outras, mas no geral, é uma competição imbecil,
como se ainda vivêssemos o começo do rock androll, todos querendo ser “a melhor
banda”. Tem alguns caras que dizem que não curtem nosso som, aí eu vejo
apoiando outras bandas “avant-garde” como Emperor, Enslaved, Tyr, SepticFlesh e
tantas outras difíceis de rotular. E percebo que o fato de sermos brasileiros e
não termos seguido a escola do Sarcófago, Krisiun ou outras, incomoda. Uma
grande burrice. Se você vai na Alemanha, as bandas que eles mais apóiam são as
Alemãs. No Brasil... são tours toscas, um país gigantesco e as bandas tem que
viajar de van ou buzu distâncias enormes, pra poder economizar. É ridículo uma
cena deste tamanho e o Malefactor, Headhunter DC, Mystifier, Sanctifier,
Veuliah e tantas outras bandas nordestinas tocando pra 200, 300 pagantes. O
mesmo público ou até menor que qualquer bandecaeuropéia quando vem aqui. Quando
uma banda underground nacional leva 500 pagantes, mesmo nas maiores capitais, é
uma vitória. Isso é uma vergonha cara. Você chega numa cidade da Europa menor
que um pequeno bairro de Salvador e dá o mesmo público. Sendo que eles tem show
TODO DIA praticamente. Não tenho aquele discurso brega de “apóiem o metal
nacional”. Eu apóio bandas boas, sejam de onde for. Mas NÃO IR porque é
nacional é de uma burrice enorme. As bandas também tem uma parcela enorme da
culpa. Mesmo depois de lançarem discos, terem anos de estrada, tocam em
qualquer buraco fudido, com som de karaokê. O cara vai num show destes, e sai
detonando, e com razão. O maior problema da cena de Salvador, é ser de
Salvador. Tenho percebido isso há tempos. Se no interior faltavam lojas (aqui
só sobrou a Mutantes e a Smile que eu saiba), é MUITO mais fácil conseguir patrocínio
para eventos. Aqui é tudo na máfia, só pagodeiros e arrocheiros recebem verbas,
tanto da iniciativa privada ou dinheiro público. Com raras exceções, e que,
geralmente, mais porque tem contatos políticos do que por outros motivos.
18. Além do guitarrista Danilo, que
possui o DivinePain(Death Metal), alguém mais da banda possui algum projeto?
LordVlad: No momento não. Chris toca
em algumas bandas de cover, e Jafet está acertando com uma banda irmã de death
metal a sua provável participação como membro no disco deles. Eu estou
enrolando tem anos dois projetos. Um de Black Metal, muito provavelmente na
veia grega e australiana, e um projeto de heavy metal tradicional. Tenho muitos
riffs, mas tudo muito incipiente ainda. Recebi uma “proposta” de trabalho e
estou vendo se é possível para 2013. Mas eu trabalho em dois locais, das 8 as
22 TODO DIA, e ainda tem o Malefactor. Tempo é algo que não tenho !
19.Gostaria que comentasse um pouco
sobre o conteúdo lírico da música The DarkestThrone que pra mim e provavelmente
pra muitos é o maior hino da banda... THE DARKEST, THE DARKEST, THE DARKEST
THROOONE!!!
LordVlad: Em 2000, quando ela foi
escrita, estava procurando por temas diferenciados. Jafet descobriu uma antiga
lenda viking, sobre a conquista de novas terras e sua relação espiritual com
Njord, e seu chamado, que os guiaria pela neblina. De certo que sempre estamos
buscando falar de civilizações antigas, reais ou não. No mesmo disco “(The
DarkestThrone – 2001) havia uma música sobre a Atlântida (“IntotheSilence”) e
sobre a Era Hiboriana (“Necrolust in ThulsaAbbey”) e assim tem sido desde
sempre. Sempre olhando para o passado, sua manifestações pagãs, suas guerras e
suas sociedades. É assim que fazemos nossa arte obscura. “The DarkestThrone”
sempre será uma música especial para nós. Com sua letra enorme, contando esta
lenda macabra. Entre os guerreiros havia um acerto de honra de que o primeiro
que chegasse à terra prometida, deveria ser o patriarca e seus filhos os
senhores do novo mundo. Bem como, o rival seria morto, afim de evitar disputas
futuras. Quando da proximidade da terra, os líderes jogaram-se ao mar,
disputando esta chegada. Um deles, ao perceber que não conseguiria vencer o
principal oponente à nado, cortou sua própria mão e arremessou até a margem,
conquistando assim o “trono mais negro”. É uma lenda forte, uma música forte e
nos shows sempre acontece aquele coral que você citou. Sempre emocionante !
20.Cada vez mais vemos bandas de Metal
tocando ao lado de orquestras, vocês pensam em um dia fazer isso?
LordVlad: Não pensamos não. Talvez
fazer umas loucuras com corais macabros, um outro convidado que pudesse tocar
algum instrumento da Musikantiga. Mas orquestra? Isso está muito longe dos
nossos horizontes.
21. Por gentileza, cite dez álbuns
clássicos do Metal.
LordVlad: Vou citar meu playlist
preferencial da vida toda:
1
- Rotting Christ – Thy Might Contract
2
– Bathory – Under the Sign of the Black Mark
3
– Horrified – In The Garden of the Unearthly Delights
4
– Iron Maiden – Somewhere in Time
5
– Black Sabbath – Vol.4
7
– Celtic Frost – To Mega Therion
8
– Sepultura – Beneath The Remains
9
– Exodus – Bonded By Blood
10
– Septic Flesh – Mystic Places of Dawn
22. Sei que você é um grande fã de cinema,
por gentileza nos cite alguns filmes que não se deve deixar de assistir antes
de morrer.
LordVlad: Vou seguir o ritmo da
pergunta anterior e citar 10 que já vi dezenas de vezes cada um:
1
– Conan The Barbarian
2
– The Exorcist
3
– Omen
4
– Rosemary’s Baby
5 –Warriors
6 –Schindler’s
List
7
– Spartacus
8
– Passion of Christ
9
– Apocalypto
10
– The Godfather
23.Como historiador, qual você acha que
seria a melhor forma de governo para o Brasil? O que faz de Salvador ser uma
das capitais mais atrasadas do país?
LordVlad: A melhor forma para o país
seria uma distribuição de renda mais justa. Temos quase todos os grandes
recursos direcionados para o Sul e Sudeste, o que começou a mudar de uns anos
pra cá. Salvador é atrasada porque esta merda de monocultura pós-1985, com a
chegada da Axé Music, fez a cidade virar o berço de uma negritude fake.
Explico. A chamada “Roma Negra” é uma construção cultural governista, aliada
aos interesses do capital. A maioria negra só é beneficiada, mesmo, pela dita
música de origem batuqueira, com letras bobas, como se o negro tivesse que
ouvir somente tambor e falar de Farol da Barra. Os verdadeiros blocos afro
desfilam madrugada adentro, como se fosse um favor prestado a eles. Ou seja, de
negra, a cultura baiana só tem mesmo a “resistência”, porque do ponto de vista
mercadológico, sempre tudo é voltado para a classe rica da cidade. Vivemos no meio
deste tiroteio de música vazia. Eu pago impostos igual aos pagodeiros, mas não
existem para mim e os outros milhares de metalheads, programas de TV, casas de
shows estruturadas, respeito por parte da mídia não especializada (com algumas
exceções). Você vai a Recife (tem muita porcaria lá também), mas tem grandes
festivais, shows internacionais, metrô. Não é uma monocultura, não é aquela visão
medíocre de que se é uma musica de fora, é contra a terra. Que eu lembre,
descendemos de europeus também, e valorizar um tipo de música, não quer dizer
que eu tenha que achatar outra. Somos a terra do rock androll de Raul Seixas,
do Camisa “Bota pra Fuder” de Vênus e só lembram de nós por Timbalada e afins.
Não vejo Salvador saindo desta posição, porque o mercado se estabeleceu assim e
só tem piorado. Se antes (1985 pra frente) tínhamos músicas bobas, hoje temos a
“cachorrização “ das mulheres, o crack dominando a cidade, a imprensa voltada
só e somente para o escracho sanguinário dos pobres e uma terra que tem um dito
“Festival de Verão” que NUNCA trouxe uma grande atração internacional de heavy
metal, ficando evidente que estão perdendo MUITO dinheiro, somente para manter
o controle da cena musical da cidade. Pensar criticamente, por aqui, incomoda.
24.Muito obrigado pela entrevista
LordVlad! Vida longa ao Malefactor! Um forte abraço!
LordVlad:Um grande abraço a você
soldado. Somos do mesmo exército metálico. Obrigado pela oportunidade.
Interessados em adquirir material, marcar shows ou entrevistas, podem nos
procurar pelo e-mail lordvlad666@hotmail.comSTAY EVIL!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluira anos que acompanho o trabalho da Malefactor, acho uma banda muito foda, mundialmente falando deveria estar no topo de mais vendidos. O cenário do metal na Bahia deu uma enfraquecida, mas temos que sair da hibernação, atualmente tive a honra de realizar o primeiro e maior evento de metal do alto sertão da Bahia " GMR 2012" com a presença da Malefactor e posso dizer que esses caras são fodas demais,nós precisamos das bandas baianas voltarem aos palcos, mas precisamos mais de atitudes como a que tivemos aqui em Guanambi,é preciso fortalecer a cena do metal aqui e quem sabe no futuro sucumbir o pagode, posso dizer também que o novo álbum está ótimo, material de muita qualidade, eu farei de tudo pra estar no lançamento, espero que todos prestigiem, pois está magnifico...enquanto eu existir a cena do metal não morrerá, mesmo que seja só dentro de mim a manterei viva...
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