Uma das grandes lendas do Brutal Death Metal mundial, Embalmed Souls, uma banda que vem trilhando um caminho íntegro durantes muitos anos, demonstrando sempre um grande profissionalismo na produção de seus registros e mantendo sempre a mesma linha sonora e ideológica. Embalmed Souls é Death Metal em sua mais pura essência! Essa entrevista foi realizada há um certo tempo atrás, respondida pelo baterista Paulo e deveria ter sido divulgada na terceira edição do meu fanzine impresso, o que infelizmente nunca aconteceu. Após a mesma o grupo lançou o DVD Live The Forsaken Code(2011) e o Demo The Kingdom Of Fake Promises(2012).
01. Gostaria que comentasse sobre o mais novo material da
banda, o Demo Six Rites Of Possession(2009)..
Como foi o processo de composição e gravação do mesmo? Por que decidiram
colocar as músicas de The Temple Of
Bizarre Cult (2005) como bônus?
Paulo: Saudações Rodolfo & Penumbra
zine! Six Rites of Possession é nosso mais recente material e consiste em 06
músicas até então inéditas, as quais foram gravadas ao vivo durante um ensaio.
Na época, estávamos ensaiando para a pré-produção de uma nova demo, que seria
gravada em estúdio.
Então vínhamos fazendo algumas gravações de ensaio para
corrigirmos as músicas etc. Entre os diversos ensaios que registramos,
particularmente esse nos agradou mais. Gostamos bastante do resultado e optamos
por disponibilizá-lo de forma oficial como nosso novo material. A opção pelo
ensaio também acontece devido à nossa busca por uma produção mais natural,
mantendo-se a fidelidade e identidade de nossa música. Particularmente, não
gostamos de algumas produções excessivas em estúdio, bem como do abuso de
triggers e demais recursos. Às vezes, acaba ficando algo muito artificial. Além do mais, esse clima de som ao
vivo é algo que gostamos muito. Lembro-me também que essa cultura de gravações
de ensaio era algo bastante comum antigamente, circulava muita coisa boa.
Quanto à inclusão da demo “the temple of bizarrre Cult” como já falado é um
bônus que possibilita o aproveitamento do espaço que ficaria inutilizado. Dessa
forma, proporciona redução em nossas despesas, pois permite divulgarmos dois
trabalhos distintos da banda na mesma mídia, facilitando o conhecimento de
nosso trabalho entre aqueles que têm interesse em nossa música.
02. Comente por favor, sobre o nome do novo trabalho e seu
contexto lírico.
Paulo: Acredito que “six rites of possession” seja uma continuação
de nossos trabalhos anteriores. Seguimos um caminho definido e temos uma forma
de conceber nossa música, não dando a mínima para intervenções externas ou
novas tendências que a todo momento são inventadas por aí afora. São 6 músicas
que mantêm as características que desenvolvemos desde o início da banda. Não
temos pretensão de soar “inovadores” ou “criadores de um novo gênero”. Tocamos
death metal conforme nossas influências e ponto final! As letras abordam temas
como repulsa à igreja, questionamentos quanto à fé, abominações, heresias etc.
03. O Embalmed Souls já é uma lenda do Death Metal,
formada em 1990 e trilhando um caminho notório até os dias atuais. Como você
avaliaria a carreira da banda durante todos esses anos? Sempre estiveram na ativa?
Paulo: Ahahah! Não faça uso impróprio das palavras. Lenda
é Motorhead, AC DC, Led Zeppelin... lenda é Possessed, Immolation, Bolt
Thrower, Autopsy, Mantas, Vulcano, Headhunter DC, Mystifier... Em todo caso, temos uma história construída
ao longo desses anos, da qual temos muito orgulho. Saber que há outras pessoas
que gostam e admiram a banda é algo que enobrece nossa jornada. Mantemos nossas
atividades ininterruptas desde o início. Através dos anos, aprendemos a lidar
com certas situações e a superar eventuais dificuldades, unicamente movidos
pela devoção em tocar a música que possui nossas almas: death metal! Acredito
que essa permanência ativa também seja decorrente de uma grande amizade que
temos entre nós, fortificada ainda mais durante esses anos.
04. A banda não possui nem CDs, nem Vinil, “somente” Demos em sua discografia. Isso foi uma opção da banda? Acredito que uma grandiosa banda como o Embalmed Souls tenha recebido muitas propostas de gravadoras pra lançar um registro prensado, certo?
Paulo: Essa é uma questão que nunca nos preocupou, sempre
fizemos as coisas com o EMBALMED SOULS caminharem da forma como desejamos, sem
qualquer interferência de nenhuma parte estranha à banda ou preocupação em
adaptar-se a novos conceitos ou oportunidades de mercado. Estamos satisfeitos com a forma que
disponibilizamos nosso material. Gostamos de demo e achamos um meio eficaz para
divulgar nossa música. Não vejo diferenças entre uma demo com qualidade e um cd
básico prensado e vendido a preços fora da realidade. Isso ainda se agrava
nessa época de download pela internet. Enfim, se alguém não se interessa por
demos, nos deixe em paz e escolha uma das dezenas de cds lançados mensalmente pelas
mais diversas gravadoras. Sim, já tivemos algumas propostas, mas optamos por
continuar à nossa maneira. Porém isso absolutamente não significa que nunca
iremos registrar algo em cd. Nós
respeitamos o trabalho de diversos selos.
05. Que outras bandas que só lançaram Demos são do seu conhecimento e agrado?
Paulo: Veja bem, como já falado, nós gravamos demos porque gostamos
de demo. É um formato que nos agrada e satisfaz os anseios da banda. Não
gravamos demos para seguir exemplo de tal banda. Não seguimos nada e nem
ninguém que não seja nossa própria vontade. Não gravamos demo por que isso soa
mais “assim” ou “sei lá como”. Não me interessam certos conceitos empregados de
forma errônea por algumas pessoas. Não temos absolutamente nada contra cd e
provavelmente poderemos gravar algo no futuro. Contudo, no momento, não temos
planos efetivos para isso. Mas repito: o formato como divulgamos nossa música é
satisfatório para nós.
06. Cite por favor, 10 Demos clássicas de Death Metal.
Paulo: As demos/ensaios/piratas do Mantas; Death; Massacre;
Devastation; Morbid Angel; Pentagram; Obliveon; Dr. Shrinker... No Brasil Mutilator;
Deth; Aamonhammer; Psychic Possessor; promo do Headhunter DC etc...
07. A sonoridade do Embalmed Souls é bastante mórbida, fúnebre... o que me faz lembrar do Incantation. Os nortes-americanos seriam uma forte influência?
Paulo: Esse tipo de “atmosfera” sempre cativou nossa atenção e
orientou-nos na busca de uma característica que veio a contribui como fator
diferencial atribuído a nossa música. Mas ressalto que esse processo é bastante
natural, fruto de influências externas aliadas obviamente ao toque pessoal na
hora da composição. Outra coisa que sempre nos preocupou: nós apreciamos
rapidez, mas também consideramos essencial o peso. E é justamente a fusão
desses elementos que tem sido nosso objetivo desde o início. Com absoluta
certeza Incantation é uma grande influência para nós, uma banda que admiramos e
respeitamos muito!
08. E toda essa atmosfera fúnebre das músicas do Embalmed
Souls... Você vê alguma explicação para isso? Apenas fatores naturais da música
tocada por seres que desfrutam de um mesmo sentimento?
Paulo: Nossas inspirações provêm de nossos próprios sentimentos e
são uma forma de prestar tributo à música que hipnotiza nossas almas há tempos:
DEATH METAL! Pessoalmente temos algumas influências distintas, mas o ponto
comum que mantém a banda ativa é justamente a devoção e o prazer pelo som que
desenvolvemos; a admiração comum pela essência do Metal!
09. É difícil fazer e manter a mesma qualidade de som durante tantos anos? Como buscar força para tal?
Paulo: Como eu já falei, a banda é uma forma de prestarmos tributo ao
death metal. Sempre tocamos exclusivamente guiados por nossas influências,
então a primeira cobrança quanto à qualidade das músicas é feita justamente por
nós mesmos. Não tocaríamos algo de que não gostamos. Antes de termos a banda,
somos também apreciadores de Metal e assim como todo mundo, já tivemos algumas
decepções com bandas que modificaram drasticamente sua música. Portanto, a
coerência passa também por respeitar aquilo que gostamos e que fazemos por
prazer. Já fazemos concessões demais em nosso dia-a-dia, seja nas relações de
trabalho, salário, subordinação a chefes, horário, prazos, etc. Se tivéssemos
que modificar a música também, aí já seria escravização absoluta!
10. E como anda o contato com os gringos? Você acredita que o Embalmed Souls possui um nome mais forte no Brasil ou no exterior?
Paulo: Não vejo diferenças. Eu mantenho contato e troco material
com todo mundo que estiver disposto a fazer esse tipo de intercâmbio,
independente da cidade ou país. Havendo respeito ao underground e ao trabalho
de bandas fora do circuito mainstream, eu tenho o maior prazer em enviar nossas
demos.
11. Aqui em Salvador está se tendo um grande problema...
Não se acha fitas k7 virgens. Acontece o mesmo aí em Brasília? Esse foi
um fator para que a banda tenha lançado os últimos registros em formato CD-R?
Paulo: Correto. Novamente as questões econômicas interferem em
nossas opções. Tudo vira mercantilismo e as regras tiranas da economia se
aplicam a tudo, mesmo ao simples hobby de colecionar tapes, discos etc... Antigamente,
na época do vinil, fitas cassetes tinham um preço acessível. Havia marcas caras
e outras mais baratas, mas havia opções. Quando do início do cd, a oferta e os
preços dos vinis foram gradativamente caindo. As fitas continuavam por ali...
quando foi surgindo o cdr, inicialmente o preço era muito caro. Depois de um
tempo, o preço do cdr foi baixando e os cassetes ficando escassos... Escassez e
procura sempre estimulam aumento do preço. Ou seja: aquilo que outrora era
barato e acessível, hoje virou item de suposta cobiça, elevando seu preço de
forma inaceitável. O mesmo aconteceu com os lps: quando da convergência em
massa para o cd, as pessoas se desfizeram de coleções completas de lps por
preço de banana. Hoje, esses mesmos discos são vendidos por uma fortuna!
Lamentável.
12. Como andas a cena Metal aí em Brasília? Alguma
novidade?
Paulo: Mesmo com alguns períodos de inércia, a cena no DF sempre
foi bastante ativa, com excelentes bandas contribuindo para o panorama
nacional. Acredito que haverá um constante aprimoramento e espero que se
aprimorem também a organização de shows, pois desta forma, o DF não deverá nada
a qualquer outro estado do país. Pessoalmente sinto falta de uma presença maior
de fanzines.
13. Parece-me que a banda faz poucas apresentações ao vivo, estou certo? Quais são os motivos para que isso não aconteça? Quais as exigências da banda para tocar?
Paulo: A questão está ligada às condições oferecidas e à lábia
desgraçada de alguns (des)organizadores de shows que ainda insistem em promover
eventos(??) onde predominam a absoluta falta de seriedade no trato com a banda
e com o público. Cobrar ingresso para um show onde não é oferecida aparelhagem
mínima e ainda querer tratar o público e banda como meros “detalhes” é algo que
discordamos. Nossas exigências são basicamente boa aparelhagem e passagem.
14. Pelo que sei os materiais da banda são passados de
forma bem restrita... Vocês não aparecem em revistas famosas, ou divulgam muito
sua música, certo? Isso é uma forma de preservar a integridade do grupo?
Paulo: Nossa divulgação é basicamente no meio underground porque
somos uma banda de origem e tradição underground. E é esse público que nos
interessa. Não temos vontade e nem disposição de ter divulgação maciça, assim
como não temos o menor interesse em saber o que críticos de supostas “revistas
famosas” poderiam achar de nossa música.
15. O Embalmed Souls pode ser considerada uma banda
radical?
Paulo: Somos todos um bando de velho ranzinza, cabeça-dura e anti-social.
Seguimos nosso caminho e não damos a mínima para influências externas. Temos
uma autonomia e mesmo que isso traga certas limitações, convivemos muito bem
com ela, pois permite manter nossa trajetória longe daquilo que não nos
interessa.
16. Qual sua opinião sobre o MP3?
Paulo: Não tenho nada contra mp3. Apoio o livre intercâmbio/troca
de materiais sem fins lucrativos. O problema é que vejo algumas pessoas dando
mais valor à forma do que ao conteúdo. Para mim, a música vem primeiro. Se a
música é boa, será bem-vinda, independente de ser em tape, cd, cdr, vinil, mp3
ou seja lá o que for. Agora, se a música é ruim, torna-se dispensável qualquer
tipo de embalagem que seja feita. Obviamente quanto ao formato eu prefiro os
originais, mas essa é minha escolha. Se eu ainda opto por ter que ir ao maldito
correio, pagar as taxas cada vez mais caras, enfrentar o péssimo atendimento e
ainda ter que esperar dias para o material chegar, é uma opção que eu sigo. Se
existe a possibilidade de fazer tudo isso digitalmente, mediante uma simples
tecla, eu não vou perder meu tempo discutindo contra essa questão. Aliás,
perder tempo com coisas que não dependem de suas ações e ficar se lamentando
por isso é algo que eu não faço.
17. Qual é a importância dos zines impressos em sua opinião? Quais zines você destacaria no Brasil e no exterior?
Paulo: Fanzines sempre foram e sempre serão o fundamento maior de
apoio às bandas underground. É um mecanismo de suporte essencial, seja na
consolidação de nomes já existentes ou na possibilidade de divulgar novas
bandas do meio underground que não têm condições de pagar jabás ou que mesmo
não se subordinam aos ditames das revistas da moda. Obviamente há muito zine
ruim e tendencioso, mas na essência, o trabalho de um fanzine é fruto exclusivo
de dedicação e paixão. O material será resenhado, independente de ser uma demo
gravada no fundo de quintal em um cassete VAT ou um cd gravado e mixado no
Morrisound. Acho que deve prevalecer a análise da música, penso dessa forma. Mas
novamente a questão financeira e as comodidades tecnológicas interferem naquilo
que gostamos. Acredito que os custos de impressão e correios estejam fazendo os
zineiros pensarem duas vezes quando vão realizar um novo número. Há
excelentes zines (ativos ou temporariamente suspensos) como Medical Genocide, Metal
Blood, Cursed Excruciation, Sepulchral Voice, Thundergod, Visão Underground, Necrosis,
Supremacia Underground Revelações Abissais, Penumbra, Pagan Vastlands, Crypts
of Eternity, Noise and Shit, Chaos Mag, Deadhead, Call to the Infernal Hordes,
Bloody zine, Hellspawn, Desecration of Virgin, Unholy Terror, Necroscope,
etc...
18. E os zines virtuais? Quais os pontos positivos e
negativos desse tipo de divulgação em larga escala?
Paulo: Novamente aqui vem a questão do conteúdo. Se o zine for
ruim, o fato de ser impresso é apenas mero desperdício de papel. Acredito que
haja excelentes zines virtuais com uma proposta séria que se distancia dessa
coisa banal de atuarem como meros canais de fofoca e propaganda fútil.
19. Vocês utilizam a imagem do Bode... O Embalmed Souls é uma banda Satanista?
Paulo: Essa é também uma imagem de negação da crença no suposto
salvador dos pecadores, um claro distanciamento dos ditames da igreja, uma
declaração de rejeição. Mas não seguimos nenhum tipo de regra ou doutrina
filosófica que seja.
20. O Embalmed Souls é uma das bandas mais fiéis, honestas
e cults da cena extrema mundial. Vocês sempre mantiveram intacta a sonoridade e
ideologia da banda durante quase duas décadas de tributo ao Death Metal. Como
você se sente tocando em uma banda de tal grandeza?
Paulo: Tocar bateria no Embalmed Souls é dos maiores prazeres que
tenho. São poucos os lugares em que me sinto tão bem quanto tocando com o
restante da banda. O Embalmed Souls é parte integrante da minha vida. É algo
que faço com profunda dedicação. Sinto-me privilegiado por fazer parte dessa
jornada ao lado dos meus amigos, em uma comunhão de esforços em prol da busca daquilo
que sempre acreditamos e que sempre quisemos fazer. Poder manter isso ativo ao
longo desses anos é certamente algo que me deixa bastante honrado.
21. Li no Psychosis Death Web Zine que vocês relançaram os
dois primeiros Demos com versões remasterizadas. Isso aconteceu? Ainda existem
cópias?
Paulo: Na verdade, a demo “Journey Through Bizarre” foi gravada e
lançada em 1997. Porém, na época, não tivemos dinheiro para fazer a
masterização, então lançamos assim mesmo. Finalmente tempos atrás conseguimos masterizá-la,
então, como forma de disponibilizar esse material para quem tivesse interesse,
resolvemos lançar as duas demos na mesma mídia (1997 “journey through bizarre”
+ demo 1999 “become vengeance, become wrath”).
22. Gostaria de parabeniza-los pelo fudido DVD Live at Art Underground(2008). Já existem planos pra lançar um novo material nesse formato?
Paulo: Agradeço os elogios. Por enquanto, não temos planos para
realização de outro dvd. Na verdade, a idéia do dvd foi sugestão de um grande
amigo nosso, ao assistir a filmagem do show em Cuiabá. Então fomos
agregando outras idéias, aprimorando os conceitos e acabamos por lançar um
material duplo, contendo não apenas o show em Cuiabá/MT, mas também alguns
bônus, biografia etc. Serviu para celebrarmos parte de nossa história e
compartilhar um momento que foi bastante representativo e marcante para o
Embalmed Souls. Somos gratos ao pessoal de Cuiabá.
23. A banda já está
trabalhando em músicas novas? Será que seria possível fazer uma estimativa de
quando teremos o prazer de desfrutar de novos hinos do Embalmed Souls?
Paulo: Sim, temos diversas músicas novas e outras em fase de conclusão.
A nossa intenção é gravar outra demo neste ano de 2010. Temos outras idéias
também, mas dependem de alguns fatores ainda a serem definidos. Mas certamente
haverá um novo registro com músicas novas.
24. Muito obrigado por esse grande suporte amigo Paulo.
Espero um dia realizar o meu sonho e poder ver o Embalmed Souls ao vivo.
Forever Underground!
Paulo: Agradeço o apoio e o espaço concedido. Prazer imenso poder
compartilhar parte de nossa trajetória com o Penumbra zine. A quem possa
interessar: nosso material está disponível para trocas com bandas, fanzines,
tape-traders e todos que queiram se submeter aos ritos de possessão. Death
metal is the law and forever shall be until the last drop of blood in our
veins! Death by metal!
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